segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

#198 Melodias

Respiro, sinto a fresca brisa da cidade arrumar-me um sorriso melódico ou melancólico, talvez... E deixo que ele possua o meu ser, corroa-me o espírito e alastre-se pelo coração. Penso em ti. Invadem-me lembranças daquilo que fomos, daquilo que passamos, daquilo que sonhamos e tudo o mais que existiu. Invadem-me sonhos adormecidos, tesouros escondidos, segredos nunca revelados, cartas esquecidas, palavras silenciadas, árvores cúmplices, a minha voz rouca e a tua voz estridente. Sento-me. Fecho os olhos. Imagino-te à minha frente a implorares, como na primeira vez, que me soltasse pelo menos para o momento e que desse asas à voz. Imagino-te com o teu sorriso rebelde e o olhar doce, o cabelo castanho escuro e a pele bronzeada, as tuas calças cremes e a tua camisola vermelha. De pernas cruzadas enrolava-me como uma concha e tu segurando-me pelos ombros suavemente levantavas o meu corpo. Como se o tempo voltasse para trás. Abro os olhos e não sinto tristeza, incrivelmente avassala-me um bem-estar sem antecedentes. Há tempos atrás seria impossível esse sentimento bater em mim sem uma dose de magoa. Mas hoje sonho acordada e não me importo sequer com isso! E então recordo... Lembro-me que muitas vezes me disseste que só vinhas para me ouvir cantar. Lembro-me tão bem! Lembro-me de só conseguir cantar para ti e para te ter. Não é que não sinta a tua falta (já sabes que sinto apenas não quero repetir-me) mas a falta maior que mais carência me dá é já não conseguir soltar a minha melodia. Há dias atrás, neste sitio onde hoje me sinto tão bem, pediste-me que nunca deixasse de cantar, bem ou mal pouco importa, triste ou alegre é indiferença, com lágrimas ou gargalhadas o essencial é sentir. Disse-te que ainda não estou pronta para isso, acho que vai ser difícil mais alguém conseguir ouvir-me para alem dos limites como tu. Fizeste-me prometer que deixaria que a minha estrela brilhasse sempre, reclamei mas... Quem sabe... Quem sabe...

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