domingo, 22 de fevereiro de 2015

#274 O mundo não te tratou bem

Passaram-se tantos anos desde a última vez que te tinha visto. Nesse dia, que agora recordo, temi o pior para nós os dois. Era tão certo que a tua vida não ia encontrar mais a minha. Sabia o teu sorriso de cor, tanto quanto conhecias os meus olhos e por isso mesmo tornámos a relação intocável. Amei-te tanto, quanto me fizeste sofrer. Não chegaste a ler a carta que te escrevi por não ter tido coragem para dar-te, como tinha planeado durante a nossa última conversa. Foste o homem que mais admirei. Do ódio, ao amor. Da liberdade, à influência. Tornámos-nos incompatíveis mas hoje em dia não consigo deixar de pensar em mim e em ti ao mesmo tempo. Muita gente na altura disse-me que ia esquecer-te sem querer recordar-te. O que hoje acho: é que quem dizia isso, mentia. Ou então nunca amou. Naquele dia fizeste-me crer que era tudo ilusão minha. Naquele dia arrebataste-me o coração mas não do modo doce como o fazias, para deixares uma ferida que me fez tomar uma das maiores e mais difíceis decisões da minha vida. Naquele último dia olhei para ti em raio-x, de modo a guardar-te por fim no meu coração e fechar o cofre onde ias ficar eternamente. Quis pensar que as asas que me pedias iam levar-te por caminhos melhores do que aqueles que te podia dar na altura, afinal de contas dizias que não chegava para ti. Mas o meu coração sentia algo bem diferente. Sentiu e acertou, que eu estava perdida no mundo e que ia ficar assim por muito tempo. Sozinha entre o desamor que rasgou-me a pele e criou as feridas que demoraram 3 anos a curar. Foram feridas que mataram-me aos poucos e deixei de viver. Não imaginas quanto doeu. Mas não te culpo. Hoje, já não. O melhor disto, é que aprendi a renascer. Obriguei-me a reagir e acordar os meus sonhos adormecidos. Gritei basta. E aos poucos recuperei dos maus sentimentos em que tinha ficado. Transformei as feridas em tatuagens e sobrevivi à queda. Aprendi também a conhecer-me e a respeitar-me. Mas o meu coração também sentia o teu lado. E alertou-me que embora quisesses viver o teu auge, isso não ia acabar bem. Se eu ficasse perdida de imediato, tu também irias ficar mais ainda embora não fosse logo a seguir. Ontem comprovei isso. Foi um choque encontrar-te. Estás num estado, que eu nunca quis pensar. O cabelo comprido, a barba desleixada, o corpo esquelético, a roupa desadequada, o olhar e o sorriso apagados. Não esperava. Não tive tempo para reagir quando olhas-te para mim. Segui em frente sem palavras que pudessem ser dirigidas. E a criança... Nem com um ano... Aprendi a viver sem ti, quando já era quase impossível. Reorganizei os meus sentimentos e embora tenha objectivos há mais de 5 anos onde tu nem sequer estás, quero-te bem. Quero-te mesmo muito bem. Porque o amor, já não tem volta mas também não guardo nenhum mau sentimento de ti. Não consigo deixar de ter pena de ti. Foste o homem que mais amei na minha vida. Gostava que alguém te ensinasse a sorrir de novo, como fizeram comigo. Demorei mas consegui e tu? Com toda a pressa, jogaste-te por becos sem saída... Foram escolhas... Quem poderia adivinhar?.

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